Caetano Veloso

Anjos Tronchos
Uns anjos tronchos do Vale do Silício Desses que vivem no escuro em plena luz Disseram: vai ser virtuoso no vício Das telas dos azuis mais do que azuis Agora a minha história é um denso algoritmo Que vende venda a vendedores reais Neurônios meus ganharam novo outro ritmo E mais e mais e mais e mais e mais Primavera Árabe – e logo o horror Querer que o mundo acabe-se Sombras do amor Palhaços líderes brotaram macabros No império e nos seus vastos quintais Ao que revêm impérios já milenares Munidos de controles totais Anjos já mi ou bi ou trilionários Comandam só seus mi, bi, trilhões E nós, quando não somos otários Ouvimos Shoenberg, Webern, Cage, canções… Ah, morena bela estás aqui Sem pele, tela a tela Letras de cancionesEstamos aí Um post vil poderá matar Que é que pode ser salvação? Que nuvem, se nem espaço há Nem tempo, nem sim nem não Sim: nem não Mas há poemas como jamais Ou como algum poeta sonhou Nos tempos em que havia tempos atrás E eu vou, por que não? Eu vou, por que não? Eu vou Uns anjos tronchos do Vale do Silício Tocaram fundo o minimíssimo grão E enquanto nós nos perguntamos do início Miss Eilish faz tudo o quarto com o irmão From Letras Mania