Rodrigo Ogi

Noite Fria
Eu conto histórias das quebradas do mundaréu Lá de onde o vento encosta o lixo e as pragas botam os ovos Fala da gente que sempre pega a pior Que come da banda podre Que mora na beira do rio e quase se afoga toda vez que chove Que só berra da geral sem nunca influir no resultado Falo dessa gente que transa pelos estreitos Escamosos, esquisitos caminhos do gonçalo do bom Deus Falo desse povão, que apesar de tudo É generoso, apaixonado, alegre Esperançoso e crente numa existência melhor Na paz de Oxalá (Pois, na fria noite) Ahhh! Lá estava eu na cena que jamais esquecerei Eu, mais dois amigos, na ideia que citarei Se perguntarem para eles como foi aquela sexta 13 O chicote estalou milhões de vezes Eu corri para alcançar o último busão pro centro da cidade Noite fria, arsenal trazia na bagagem Walkman, ouvindo Sabotage A rua tá tranquila, isso deve ser miragem Desci na Miller, com a Maria Marcolina Senti o odor da creolina e a chuva fina cai do céu Fui pelo Brás até a Luz, depois pro terminal Princesa Isabel Letras de cancionesNo pique pro arrebento, trombei meus manos Na madrugada, eu tava atento e tinha planos, ha-ha! Decidimos cair pra zona norte (e aí?) Adrenalina era o nosso esporte (Pois, na fria noite) Logo que eu desci do buso, eu vi Um beiral de pastilhinha de oitenta e nove Meu comparsa sorri, já pensa em subir Mas eu vejo um giroflex na esquina e a viatura surge Na neblina, eu dou a fuga e meus comparsas também vêm Felizmente, os ratos, dessa vez, não vão pegar ninguém Mas foi um engano, eles fingiram que não viram Mas da esquina ficaram passando um pano Shhh... Vamos sair na maciota Ahh, não sei se é tático ou ROTA Pulo com meus aliados pra casa do lado Tentando fugir dos gambés Fomos interceptados por cães adestrados Tentando morder nosso pé Vi que uma luz acendeu, morador acordou Quando um grito ele deu e logo nos caguetou Não teve fuga, chegou a nossa hora (vai, vai, vai!) Com as mão pra cima, nós saímos pra fora (Pois, na fria noite) Ahhh! Assim que saímos, com socos fomos recebidos Meu truta se viu humilhado e disse: "não somos bandidos!" Aquilo evocou a fúria, pros tiras, soou como injúria Me lembro bem do momento Quando eles começaram o espancamento Meu truta desacorda-do, todo zoa-do, feio na foto Pois foi massacrado de um jeito que dá dó Numa noite fria, eu vejo o sangue do meu mano Sobre a bota de um marginal fardado Revolta vem e a minha alma encarde Pois eu me omiti, confesso, me senti covarde Gravei os rostos deles e vou denunciá-los Mas as fardas não têm nomes, como identificá-los? Eu vejo o meu final de um jeito tão banal Ele apontou pra mim, puxou o gatilho Paw! Paw! From Letras Mania