Cristina Branco

Miriam
Quem te visse aprumadinha camisa, calça de ganga colarzinho de missanga e quase sempre sozinha Mas chegando a madrugada montavas a bicicleta de t-shirt e calça preta e grande capa doirada Uma argola na orelha e uma mochila vermelha Quem havia de dizer O que andavas a fazer Ai Miriam Quem te visse A passear no Chiado Com um ar muito aprumado De repente tão reguila e o que era mais estranho é que essa tua mochila parecia sem tamanho lá cabia o que tiravas Letras de cancionesde toda a parte onde andavas sem que ninguém te apanhasse e sem que ninguém te visse Qual Robin que se inspirasse nas aventuras de Alice Quem havia de dizer O que tu ias trazer Ai Miriam Quem te visse De dia, uma boa menina E à noite super-heroína As coisas que tu trazias!: um grande queijo da serra um dicionário, um colchão um bom pedaço de terra um comboio, um avião Estacionamento sem multa um posto de gasolina um bilhete pró Teatro umas férias em Berlim Uma casa e um jardim um alvará e um contrato um bife, uma sopa quente uma visita a Foz Coa Uns patins, uma meloa o Expresso do Oriente Até ao raiar da aurora como se fosse um festim que nunca mais tinha fim como se todos os dias tudo fosse sempre assim E muito mais...muito mais... as coisas essenciais P'ra se poder escolher a vida que se quer ter E de toda a parte vêm os que nunca nada têm fazer um grande festim com tudo o que tu trazias Como se todos os dias tudo fosse sempre assim Quem é que pode saber O que vai acontecer Ai Miriam Quem te visse Se muitos fossem capazes De fazer o que tu fazes. (Dank an Holger Henning für den Text) From Letras Mania